Também somos parte daquilo que criticamos


Enojo o prazer que muitas pessoas sentem ao criticar tudo que não é “convencional” ou como eu gosto de dizer “tudo que não é erudito”, pois a arte de escrever é muito maior do que um emaranhado de palavras difíceis; ela é simples, passível de sentimentos e detalhes que impulsiona o leitor embarcar naquela história ou naquela idéia como se fosse dele e de uma forma mágica viver o conteúdo, sentir seu gosto.
A geração mimeógrafo que inspirou o livro "26 Poetas Hoje", onde estão as mais famosas obras de poesia marginal brasileira, é um marco muito importante para o país: foi um fenômeno sociocultural onde os poetas se expressavam livremente em pleno regime da ditadura militar, um momento de revolução literária e quebra de paradigmas, que revelou muitos ícones importantes como Chico Buarque, Gilberto Gil e Paulo Leminski, e mesmo assim ainda há pessoas que não reconhecem o valor de suas obras e não conseguem degustar absolutamente nada de suas mensagens. Tal fenômeno ocorre com escritores que abusam de um estilo sem pudor como Charles Bukowski que escreveu “Crônica de um Amor Louco” e como Georges Bataille que escreveu “A História do Olho”, com narrativas repletas de obscenidades usadas como ferramenta criativa e estética a fim de modificar a visão da normalidade.
Escuto diariamente tantas críticas superficiais e sem lógica que fico triste, porque se identificar com uma obra é aceitar que temos algo em comum com ela e não apenas entender ou decorar trechos de cada uma delas. Ocorre que todos nós temos algo em comum, sejam sentimentos ou ideias, logo vivemos em uma era cheia de hipocrisia. Por todos os lados encontramos pessoas que pensam como máquinas e passam por cima de sua essência animal. É fácil culpar a sociedade pelo que nos tornamos, já admitir quem somos é simples, basta tocar o mundo com os “olhos” da alma e perceber o outro sem julgar o sua forma de ser.

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