Sobre a depressão, os não-homens e eu.


Sobre a depressão, não a nego, assim como exijo o direito de me sentir só.
Indago se a solidão é fruto da razão ou se a razão é de fato uma cruz pesada sobre o curso das coisas, e não entendo.
Enquanto homens assassinam seus animais, luto para manter vivo o leão que me habita, tanto quanto brigo para respirar neste mundo onde o ar é pago e viver é quase uma obrigação.
Se divago sobre a morte, estou com depressão, sobre a ausência de prazeres, estou com depressão, sobre a solidão então, a única coisa que me dizem é que eu preciso de um médico. Vejamos, um médico, senhor de quarenta e poucos anos graduado em psicologia ou medicina, doutor em comportamento humano ou especialista em psiquiatria, e tudo em algumas das “melhores” universidades do país ou do mundo, e para quê? Para ouvir meus conflitos existenciais e medicar um humano em seu estado mais puro de angustia e vida?
Há tempos tenho caminhado pelos vales da psicanálise, tanto quanto pelo universo dos homens em seu estado mais primitivo, e tudo mudou repentinamente, porque notei que os homens que trilham os caminhos da mente padeceram no esquecimento da natureza, sufocaram seus medos e seus monstros, enquanto os homens que cultivam seus animais, por mais cruéis e instáveis que sejam, ainda assim são mais ferozes e reais doutores em humanidade.
Busco a lógica nas relações, e não há. Ou há.
Cada homem é um lugar, e desta forma, cada lugar gira em torno de si, mas em grande parte olham para fora, pela janela mundo, e escondem em baixo dos tapetes da alma suas verdadeiras faces, mas o que é verdadeiro se não o que é? E se são assim divididos entre homens que olham para dentro e homens que olham para fora, então posso entender que a humanidade está dividida entre homens e não-homens.
Os não-homens cultivam o mundo exterior e os homens o interior, o que angustia não são os não-homens, mas a ausência de equilíbrio entre esses dois seres que “precisam” se relacionar diante da existência que deu a todos a capacidade de florescer e murchar.
A felicidade, como diria Camus, é lúcida, pois ela se apropria do equilíbrio para existir, mas não confundamos com indiferença, visto que há luz e escuridão, ambos são tão necessários quanto o sol e a noite fria, logo, todos os homens são necessários. Sem os não-homens não haveria progresso material, e se fossemos todos homens, não haveriam estrelas, já que é preciso a morte para refletir a vida.

E sobre a depressão, eu retomo, os não-homens não ajudam homens, porque é preciso apagar as próprias luzes para ver as estrelas. Desenhá-las me tornaria menos homem e menos eu.




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