Isolada na alma


Não tenho em mim sonhos extraordinários capazes de movimentar o mundo, mas tenho mãos e delas faço instrumento de tremor.
Isolada na alma, sem um lugar na multidão, caminho sobre as linhas do destino cultivando doses homeopáticas de felicidade, enlouquecendo outras almas e outros corpos, como quem nasce com o direito de ser, travestir e entorpecer tudo que toca, até quando sente o que finge tão profundamente.
Tudo é barulho e é assim que a vida se permuta no tempo colhido, nas horas descontentes, extrapoladas.
Recrio as facas que cerram meus olhos na madruga, desmedida, mas comemorada. Contento-me com frascos já vencidos de inspiração.
Três goles de ausência seguidos de lucidez são como gatilhos.
As mãos descontroladas escorregam numa desordem intrigante e estridentemente. Não há saídas para desmistificar ou mistificar a mulher que está a remar pelos rios do pensamento.
Nefelibata, desprendida de conceitos e interjeições, aqui está ela, entre a poesia e o sentido da vida, degustando palavras molhadas na liberdade despretensiosa de alguém que almeja simplesmente estar aqui.

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