Inquietude, ficção e outros goles

Sobre a vida vazia, penso que vazia é uma palavra que guarda sentimentos ignorados, entre eles o apreço por coisas mal vistas socialmente, e quando digo mal vistas, falo de julgamentos construídos sem sentido, como o paradigma “ser alguém na vida”, este que por mais que entendamos o seu significado nos fere, direta ou indiretamente, na medida em que os anos avançam, ou que as frustrações esbarram em nós.

Sempre (que eu me recorde) almejei ser artista, embora seja um assassinato intelectual segundo alguns “mestres” e “doutores”. ´

Por que eu me importo com opiniões desconexas enquanto a única felicidade em jogo é a minha?
Se todas as pessoas que me apontam o dedo pudessem sentir a dor que toma conta da minha alma quando dizem "você precisa ser alguém", então, talvez pudessem compreender minha atração pelo suicídio. É como se o meu processo de formação intelectual, principalmente por ser diferente da maioria das pessoas, fosse inócuo, como se eu ainda não fizesse parte do mundo e para me juntar a ele fosse preciso me entregar ao mesmo destino frio e calculado delas. Mas, o que mais machuca é a minha incapacidade de reagir diante de tal pressão. Ou não.

Todos nós procuramos a felicidade como se fosse algo palpável, e talvez ela esteja mesmo na "casa dos sonhos", na "família perfeita", porém, há um vazio que se instala aqui dentro, um vazio que eu prefiro degustar, pois acreditar que a vida é como é e que não há nada a se fazer a respeito é fácil demais pra mim.

Se vazio é ausência, ou se, como citei anteriormente é um conjunto de sentimentos que repelimos, o ponto é que para desconstruir é preciso compreender sua construção, cada viga, cada grão de areia que sustenta este buraco, no meu caso, degustar este abismo que transborda inquietações e paranoias.

Volto-me para dentro e quanto mais fundo, mais sombrio e desesperador se torna o meu mundo, isto porque ele não é como o dos outros, e se assim fosse, provavelmente eu não mergulhasse nos rios dos meus pensamentos, logo, não entraria em colapso, mas ainda seria a minha alma e o mesmo vazio habitando esta existência.

 O vazio cresce na medida em que o desconstruo e experimento, e quanto mais próxima da verdade sobre quem verdadeiramente sou, mais me distancio da alma, é como dirigir na contramão e perceber que o ponto de partida pode ser também um final. Não importa se me delicio em Voltaire ou Bulgákov, se sustento um caso com Pessoa ou Florbela, tão pouco Aristóteles ou Descartes, pois o que esperam de mim não é o que estou disposta a oferecer, e esta é  a causa da frustração que me assombra.

São tênues meus caminhos, tudo bem, eu aceito o fardo do "estrangeiro" desde que nunca me perca de mim, já que eu estou aprendendo a distribuir rosas mesmo quando em estado puro de melancolia, só por isso vale a pena estar aqui.

...
Eu precisei mergulhar no vão das dúvidas, degustar o vazio e olhar para o meu âmago, para perceber que eu mesma teci o vazio, as dúvidas, as respostas e o eu inquieto que me movimenta e me protege da completa loucura.  


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