INTERRUPTOR

esbarrei no instante em que o coração está a naufragar
através da lembrança se faz fúnebre o cansaço
o mundo escorre pelos dedos frios
entre as pedras que não mais ouso jogar
meus pensamentos desdobram motivos para fincar raízes
raízes regadas com trapaças, ilusões, tentações...
os sentimentos devastados ainda sobrevoam a casa
como se o passado fosse paralelo
e o futuro um bocejo
eu escuto seus passos, sinto seu toque, mas não reconheço
cogito alçar as velas, apossar-me do timão da minha própria vida
mas a fé é vasta demais.
meu farol.
no mesmo compasso em que o seu amor desfaço
revelo-me conivente com o fio que amarra a história não contada
e ao mesmo tempo paciente.
meus pés desesperados saltam o apreço pelos dias em que fomos outros
cobertos de veracidade, paixão, sonhos...
quem sou para culpar o tempo por despir minha irracionalidade?
o tempo, curador e pai de toda essa gente que se apaixona amiúde
num súbito deleite desperta o medo, a prosa e o verso
pergunto-me porque as folhas deste último outono caíram tão depressa
e porque este mesmo céu que outrora acomodou-se em minha boca desbotou
não ouço nada além dos ventos
a vasta inquietude esparramada nesta folha pálida
é uma arma apontada para o meu peito em retalhos
o sorriso dele, o interruptor
a madrugada insólita, o decreto
reabilitação


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