domingo

os olhos fatigados de não mirar outra alma
transbordando a mudez segui
rígida, deserta

sei que deixei rastros rasos
não lamento as flores que não colhi
aprendi com a ausência a magnitude de existir
sorri, chorei, esperei atenta, quase desisti

foi num relâmpago, eu vi
a sua nau aportou no meu íntimo
como um pássaro pousando brando em seu próprio ninho
todo encoberto de graça divina
devotei-me

o encantamento despontou além do tempo
contemplei a face que extasiara a alma
as entranhas, as façanhas
regozijei, sucumbi, transbordei

através da melodia de sua destreza renasci
sob o sol de um domingo bem-aventurado
acomodei-me neste talhe desconhecido, familiar
quimera minha, abrigo meu

testemunhei o paraíso emaranhar nós dois
a solidão virou mar
as dores se fizeram jasmim

cicatriz de pescador desenha agora
somente história de contar
porque história de viver e de amar
é esta que não cabe descrever, nem terminar
é fado nosso a fome de compor mais um
presente dos céus, presente da terra
presente de Oxalá

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