MUITO TEMPO

Não sei mais escrever. Talvez nunca soube.
Os sinônimos enraizados no solo infértil do meu peito tentam sair.
Houve um tempo onde as palavras corriam pelos meus dedos de alegria em alegria, dor em dor, paixão em paixão. Hoje eu precisei espremer minha alma para respirar. 

Meus pés já não sabem o cansaço e se perdem na agustia. O mundo já não é como foi aqui dentro. Só não é frio o coração que bate fora de mim e deveria me bastar. Mas não basta. O pensamento sacode a lembrança. O corpo exausto escala dia após dia em busca de um sopro qualquer capaz de reacender a brasa que me movimenta. 

Sou e não sou. Vejo e não vejo. Persisto no escuro, verde, presa nos galhos de alguma árvore sagrada. 

Reflito. Penso. Sinto. Fecho os olhos e me volto pra o barulho que arrastou os ossos até aqui. 
Acho que encontrei. O vento. O mesmo vento que te levou para longe e nos conecta quando quer e bem entende. O vento. O tempo. Espaço. 
Paro. Inspiro. Escrevo... 

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